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18 de março de 2008

O despertador

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Você costuma andar pelos mesmos caminhos de sempre, esbarra às vezes com alguém e segue sua jornada. Então um dia acorda atrasado porque o despertador não tocou, toma banho em cinco minutos e se veste em dois. Confunde a pasta de dentes com o creme de barbear, faz uma careta feia e xinga a primeira coisa que vê pela frente. Alcança as chaves do carro e a carteira, corre e engasga com o suco de laranja. É, seu dia tinha tudo para dar errado, mas então você vê toda a situação e começa a rir de si mesmo, faz do acontecimento seu espetáculo pessoal.
Nessa risada toda, nesse trânsito impaciente do caminho até o trabalho que você odeia, você percebe como aquele caminho parece diferente. Talvez um prédio que nunca havia reparado antes, a vendedora linda da loja de bugigangas, as árvores que mexem com o vento suavemente como em uma dança, alguns pássaros avulsos que olham curiosos para os carros e depois fogem.
É assim, de repente, que você percebe que nessa busca de algo para preencher o tempo, fazê-lo não ser somente um vão entre sua vida e sua história, acaba por transformá-lo naquilo que sempre condenou: alguém motor, monótono e previsível.
Decide sair da rotina, sai do carro e o deixa ali no meio da rua, sabe que com aquela quantidade de latas velhas demoraria duas horas até sair do lugar. Compra uma flor de plástico de uma velhinha, ajeita a gravata e passa as mãos pelo cabelo. Desvia de alguns carros parados, fala bom dia para um pedestre qualquer, entra na loja de bugigangas e dá a flor para vendedora linda.
Ela sorri, diz obrigada. Pergunta se já se conhecem e ele diz: "Há tanto tempo nos conhecemos. Há muitos outonos nos olhamos, mas nenhum de nós enxergou realmente um ao outro".
O inesperado ocorre assim, diante dos nossos olhos e muda muito do que há do mundo em nós.  Passa como um furacão que nos vira e desvira do avesso. Em um piscar de olhos acabamos por perceber que para as coisas mudarem às vezes apenas um despertador quebrado basta.

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