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13 de janeiro de 2008

O jardim das memórias

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Ele acordou daquele incrível pesadelo aspirando por ajuda e acabou se encontrando em um pesadelo maior ainda: a triste realidade de sua vida.
Já estava ferido há cinco dias, sua cabeça tombava com o peso de seus pensamentos.
Tentara o sinal de fumaça, mas sabia que não o encontrariam. Não naquele lugar.
Estava sem voz depois de tanto gritar. Ainda enxergava, mas de nada adiantaria, não acreditava no que via.
Havia flores mortas pelo chão ou seriam seus sonhos que haviam morrido?
Buscou uma saída, mas ele sabia que não havia uma, até mesmo porque aquele lugar não fora feito para ter alguma.
Ele se lembrou da primeira vez que sentiu de fato a felicidade, fora em um lindo dia no parque quando percebeu que sua vida era perfeita. Mas ele cometeu o erro de duvidar da perfeição, acabou procurando erros, defeitos e a tristeza foi aparecendo.
Em vez de aproveitar o lindo presente da vida, passou a perdê-la tentando encontrar algo que poderia haver de errado nela, sem perceber que este que era seu maior erro.
Foi tão fundo, tão obcecadamente fundo, que foi entrando dentro de si mesmo, cada vez mais, sonhos dentro de sonhos, até chegar nos grandes pesadelos, até acabar trancado dentro de si, se perdendo gradualmente.
Como ele parece patético agora que percebeu o quanto poderia ter vivido se não tivesse se permitido ter medo de viver.
Olhou para o lado e viu mais uma flor morrer. Era a flor de sua lembrança mais bonita.
Passou três horas e ele estava mais uma vez irreconhecível.
Parece que à medida que nossos sonhos e memórias vão morrendo, acabamos nos tornando seres frios, mais longe do que há no significado de humanidade, mais perto da solidão.
Foi nessa solidão, no silêncio constante que ele se perdeu.
Quando as feridas em seu coração estavam praticamente cicatrizadas, curadas pela perda de seus sentimentos, encontrou o que parecia ser o fim do labirinto. Sabia que no lugar onde estava não havia saída, mas isso não queria dizer que o cenário não poderia se tornar algo melhor.
Seu coração apertou. Mesmo cicatrizado estava perdendo a força para continuar pulsando. Faltavam lembranças, sonhos, faltavam sentimentos, faltava vida.
Ele caiu ao chão, olhou em frente e finalmente viu, em seu último sopro de vida, seu último palpitar, o anjo que viera para salvar. Sentiu a felicidade passar como uma antiga amiga, mas fora isso apenas. Seus olhos se fecharam. Seu anjo chegara tarde demais.

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